Os lábios e as mãos de Jesus são duas presenças fundamentais nos Evangelhos. Por um lado, há a Sua palavra que inquieta e consola, que anuncia o “evangelho”, a boa-notícia da Salvação, que instiga à conversão, ao seguimento, ao compromisso para a edificação do Reino de Deus. Por outro lado, estão os Seus atos de cura. Jesus se inclina e toca os corpos enfermos, devastados ou inanimados de tantas pessoas que vivem à margem.
O evangelho deste 6º Domingo do Tempo Comum (11/02) relata o encontro de Jesus com um leproso (Mc 1,40-45). Ele se ajoelha diante de Jesus e manifesta a sua fé pedindo que Jesus o “purifique”. Jesus, através de suas ações, revela a soberania de Deus. Diante de Jesus se encontra um homem destruído não somente pela doença, mas pelas consequências que ela traz: impureza, afastamento da convivência social, marginalizado, desprezado. Enfim, ele é o símbolo concreto da morte.
Diante de Jesus, o leproso é humilde, mas insistente, pois o encontro com Jesus é uma oportunidade de libertação que ele não pode desperdiçar. O que ele pretende de Jesus não é apenas ser curado, mas ser “purificado” dessa enfermidade que o torna impuro e indigno de pertencer à comunidade de Deus e à comunidade dos homens. Ele confia no poder de Jesus, sabe que só Jesus pode ajudá-lo a superar a sua triste situação de miséria, de isolamento e de indignidade.
Jesus, de outro lado, também rompe a Lei que determina que ninguém pode se aproximar de um leproso, e jamais tocá-lo. O amor de Deus presente em Jesus é mais forte e ele estende a mão e toca aquele homem. Esta atitude revela muito mais que um impulso humano. Jesus é a revelação do amor de Deus e demonstra que aquele homem é amado por Deus e este gesto afetuoso e misericordioso manifesta a vontade de Deus de salvar a humanidade. Ao tocar o leproso, Jesus infringe a Lei. Dessa forma, Ele denuncia uma Lei que criava marginalização e exclusão. Ele revela que a Lei (a religião) deve estar a serviço da humanidade.
Podemos extrair lições profundas dessa narrativa. Em primeiro lugar, somos lembrados da importância da fé. O leproso ousou acreditar que Jesus poderia curá-lo, apesar das circunstâncias desesperadoras. Da mesma forma, devemos manter nossa fé em Deus, confiando que Ele é capaz de curar as nossas feridas físicas, emocionais e espirituais.
Além disso, a atitude compassiva de Jesus nos chama a imitar Seu exemplo em nossas vidas. Vivemos em um mundo repleto de “leprosos” modernos – aqueles que são marginalizados, excluídos e feridos. Como discípulos de Cristo, somos chamados a estender nossas mãos com compaixão, tocar os corações feridos e ser agentes de cura e restauração.
Finalmente, a cura do leproso nos lembra do poder transformador do amor de Deus. Jesus não apenas curou a lepra física, mas trouxe cura completa, restaurando a pessoa como um todo. Que possamos experimentar e compartilhar esse amor que transforma vidas, supera barreiras e nos reconcilia com Deus e uns com os outros.
Que esta narrativa da cura do leproso nos inspire a viver com fé, compaixão e amor, seguindo os passos de Jesus Cristo, nosso Senhor.
Daqui a três dias vamos celebrar a Quarta-feira de Cinzas e iniciar o tempo litúrgico da Quaresma. Dia de jejum e abstinência. Tempo propício para rever nossas atitudes e direção de nossas vidas; tempo que vai exigir de nós conversão, humildade, silêncio, oração, caridade fraterna como preparação para celebrarmos com alegria uma vida nova na Páscoa.
Dom João Carlos Seneme, css Bispo de Toledo |