As duas grandes oportunidades globais para o agronegócio brasileiro crescer e ganhar liderança no mercado mundial estão ligadas à segurança alimentar, uma questão muito relevante principalmente para os países emergentes, e à segurança energética, pauta que preocupa todo o planeta, que precisa desesperadamente reduzir emissões ligadas a combustíveis fósseis para enfrentar a crise climática e ambiental.
O cenário foi apresentado pelo professor e agrônomo Marcos Jank, coordenador no Insper Agro Global, ao falar no Fórum Ric Rural em Pauta, durante o Show Rural Coopavel, realizado em Cascavel. Doutor em administração e ex-presidente da Aliança Agro Ásia-Brasil, Jank foi convidado pelo Grupo Ric para palestrar e debater com o Presidente Executivo da Coamo, Airton Galinari, e Roberto Kaefer, presidente da Globoaves e presidente do Sindiavipar. O debate foi mediado pelo jornalista Sergio Mendes e pode ser visto aqui.
O Fórum de Debates Ric Rural em Pauta faz parte da plataforma Ric Rural Hub, dedicada a informar, conectar e potencializar o agro paranaense, produzindo conteúdo e gerando oportunidades de negócios entre os veículos de comunicação e mídia do Grupo Ric, em TV, rádio e canais digitais.
“Nós levantamos a bandeira do agronegócio paranaense. Quem vive nas cidades ainda não reconhece a importância desse setor, da riqueza que ele constrói e do grande compromisso que tem com a responsabilidade social e a sustentabilidade ambiental. Há uma crise de identidade que nós enfrentamos com um intenso trabalho de comunicação e informação, fazendo a ponte entre o agro e a população”, disse na abertura do evento o presidente do Grupo Ric, Leonardo Petrelli.
Essa visão foi compartilhada por Marcos Jank, como mais um desafio que o agronegócio brasileiro precisa vencer para potencializar seu crescimento. “Esse é um tema muito importante. A gente tem que trabalhar imagem e comunicação no agro. A maioria absoluta dos brasileiros não sabe, não conhece, não têm ideia da progressão extraordinária do agronegócio brasileiro. Temos que conversar com as cidades, com as populações jovens urbanas nas escolas, onde surgem tantas distorções sobre o agro.”
Essa comunicação, segundo ele, tem que ser feita fora do país também. Jank contou ter vivido cinco anos na Ásia, trabalhando em 12 países da região, e não via a marca brasileira em produtos consumidos diariamente, que são produzidos com commodities nacionais como soja, milho e carne.
A “jabuticaba energética” do Brasil
“O agronegócio vai continuar crescendo. Eu acho que os dois jogos, os dois tabuleiros mais importantes para o Brasil hoje são as grandes oportunidades no mundo da proteína e um potencial enorme no mundo da bioenergia. Nós vamos internacionalizar a nossa jabuticaba bioenergética”, disse, referindo-se à fruta que só existe no país e à enorme capacidade do Brasil de produzir energia sustentável. “A produção de etanol e de biodiesel, junto com a cogeração de eletricidade, construiu uma experiência que não existe no mundo.”
Para Jank, o agro brasileiro tem tudo para ocupar papel de destaque no atendimento dessas duas emergências globais. “Eu diria que se nós fôssemos resumir a nossa pauta exportadora hoje em uma palavra, essa palavra é proteína. Proteína que vem da soja, que vem do milho, das carnes de suínos e aves. Tudo isso junto atende hoje essencialmente a China e outros mercados importantes na Ásia. A exportação é o driver que puxa o agronegócio. É o que o Paraná sabe fazer.”
O triênio 2020/2022, que foi de grande crescimento do agro brasileiro, vem dando lugar desde o ano passado para um novo período de acomodação de preços e de rentabilidade, observou. O cenário internacional mudou e o momento impõe cautela. “Não podemos crescer de qualquer forma, de qualquer jeito. Agora, é crescer com cuidado, é crescer olhando para custos, olhando para margens, olhando para riscos, principalmente. Riscos climáticos, riscos de comercialização, riscos regulatórios, riscos de gestão, riscos de governança, de sucessão.”
A demanda vai continuar crescendo, mas não em linha reta. Haverá sempre altos e baixos, com anos bons e anos ruins, mas o movimento é para frente. O agronegócio é o setor mais internacionalizado da nossa economia, com 52% da exportação brasileira. O Brasil é o terceiro maior exportador do mundo, respondendo por 8,4% das exportações mundiais no agro.
Rastreabilidade em toda a cadeia do farelo de soja
O Presidente Executivo da Coamo, Airton Galinari, observou que o Brasil precisa se diferenciar no mercado de commodities, para melhorar seus resultados. Esse é um trabalho que a maior cooperativa agroindustrial da América Latina vem fazendo em várias frentes. Como exemplo, citou a exportação do farelo de soja, que alcança preços acima dos de mercado porque a cooperativa garante ao comprador a rastreabilidade total do produto, desde a área de plantio da soja até o armazém em que é entregue na Europa.
“Isso gera valor. Atende a novas variáveis que entraram na comercialização, como a ecológica e a social. A Coamo tem um carimbo social. Não temos trabalho escravo nem infantil, não temos exploração de forma alguma, e temos grandes investimentos em sustentabilidade. Essas vertentes fazem com que a soja do Paraná tenha a menor pegada de carbono do mundo.”
Rentabilidade com sustentabilidade no frango
A responsabilidade social e ambiental também é marca da avicultura paranaense, acrescentou o presidente da Globoaves e do Sindiavipar, Roberto Kaefer. “Temos mais de 100 mil empregos diretos no Paraná e uma responsabilidade social e ambiental muito grande. A produção está tecnificada, estamos automatizando as granjas e implantando energia fotovoltaica nos aviários”, disse Kaefer.
O setor apresentou resultados negativos em 2023 por causa de fatores internacionais. “A globalização faz as coisas acontecerem muito rápido e temos que estar no mesmo ritmo. Nossos custos e investimentos, desde o integrado, são muito altos, e trabalhamos muito para que o setor tenha rentabilidade.” O investimento em valor agregado já apresenta resultados expressivos. “Exportamos produtos de excelência. Foram 5 milhões de toneladas in natura e mais de 150 mil toneladas de frango industrializado, no ano passado.”