Com este domingo (14/01) iniciamos o tempo litúrgico comum, depois das festas de Natal. O evangelista São João apresenta Jesus formando sua comunidade de discípulos, convidando alguns para segui-lo. O chamado acontece no contexto ordinário da vida daqueles homens.
O evangelho (Jo 1,15-42) nos fala de uma voz que indaga e coloca em movimento; mostra um caminho e chama a seguir. É a voz de Jesus no encontro com os seus primeiros discípulos.
Tudo começa com o testemunho de João Batista. Ele vê Jesus passando e diz em alta voz alta: “Eis o Cordeiro de Deus”. A partir daí, dois dos seus discípulos passam a seguir Jesus. A pergunta de Jesus é decisiva: “Que procurais?”. Dali nasce o convite: “Vinde e vede”. Os discípulos interpelados dirigem uma outra pergunta que revela que a busca deles é autêntica. “Mestre, onde moras?” É a pergunta do ser humano que busca estabilidade, permanência, uma casa para estabelecer moradia e, finalmente, um sentido definitivo da vida. A resposta de Jesus “Vinde e vede” é um convite decisivo. É um chamado para fazer da própria vida uma experiência de fé, de relacionamento com ele, com o Pai. O convite requer abandono de uma concepção de vida marcada pelo acúmulo e pela voracidade de experiências; exige um “permanecer” que se traduz em escuta e comunhão. Os dois discípulos são convidados a participar da vida de Jesus e conhecer a relação que une Pai e Filho no mesmo projeto de salvação da humanidade.
A comunidade de Jesus nasce deste encontro: eles reconhecem Jesus que passa, procuram nele a verdadeira vida e a verdadeira liberdade, identificam-se com Ele, aceitam segui-lo no seu caminho de amor e de entrega, estão dispostos a uma vida de total comunhão com Ele. Este primeiro passo muda radicalmente a vida daqueles homens simples, pescadores, que já se encontravam numa atitude de busca e conversão: eles eram discípulos de João Batista.
A história da vocação dos primeiros discípulos revela também a importância da comunidade no discernimento vocacional: um contagia o outro e juntos descobrem o sentido da vida que está no seguimento de Jesus. O texto aponta até a hora do encontro (era por volta das quatro da tarde) para mostrar que é decisivo e pleno.
Os desafios de Deus ecoam, tantas vezes, na nossa vida através dos irmãos que nos rodeiam, das suas indicações, da partilha que eles fazem conosco e que dispõe o nosso coração para reconhecer Jesus e para segui-lo. É na escuta dos nossos irmãos e com os olhos atentos aos acontecimentos que nos cercam que encontramos, tantas vezes, as propostas que o próprio Deus nos apresenta. Isto revela quanto precisamos uns dos outros para reconhecer Jesus que passa e faz um convite. A coragem de responder e segui-lo está em cada um de nós.
“Vinde e vede” é o convite decisivo de Jesus. É o apelo a fazer da própria vida uma experiência de fé, de relacionamento com Ele e com o Pai. Depois deste encontro nunca mais seremos os mesmos, sentiremos cada vez o desejo de viver em comunidade, partilhar com os outros o que está acontecendo conosco, a fim de que também eles possam encontrar o verdadeiro sentido para a sua existência. “Encontramos o Messias” deve ser o anúncio jubiloso de quem fez uma verdadeira experiência de vida nova e verdadeira e anseia por levar os irmãos a uma descoberta semelhante. Daí nasce, para alguns, o desejo de viver uma vida exclusiva de dedicação a Deus e aos irmãos como padre, religioso, religiosa. Quem ouvir a voz libertadora de Jesus deve segui-lo, ou correrá o risco de ser infeliz para sempre.
Dom João Carlos Seneme, css Bispo de Toledo |