A história da salvação é a história de Deus em busca da humanidade. Nossos discursos correm o risco de se tornar estéreis quando se concentram somente nas obras de nossas mãos, ou seja, quando falamos do esforço que fazemos para encontrar Deus. A história da salvação nos revela que não é assim: foi Israel que foi descoberto por Deus e não o contrário. É o que vamos acompanhar nas leituras deste quarto domingo do advento e no dia de Natal. A boa notícia do advento de Deus na história humana é esta: será o próprio Deus quem vai construir sua morada.
Neste domingo (24/12) acompanhamos Deus dando passos decisivos no seu plano salvador: Ele convida Maria a participar da reconstrução da casa de Davi, apesar dos pecados e infidelidade do rei. Aqui se revela a força criativa de Deus: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra”. Tudo o que acontecerá em Maria e na humanidade é obra de Deus porque somente o Senhor é Deus; a humanidade é marcada pela fragilidade, é uma obra inacabada. Em Maria a obra do Espírito cria e dá estabilidade. Não obstante Maria seja limitada, o Senhor vai realizar nela maravilhas.
Maria é o modelo de uma fé sólida e sem medo; é o exemplo de uma confiança simples, que não teme sua condição de serva. Maria não dúvida da obra de Deus. Maria não tenta adaptar os desígnios do Altíssimo aos limites de sua própria capacidade de compreensão; é ela que vai até Deus, sem entender muita coisa, mas acreditando que Ele é bom. A resposta de Maria é a resposta de toda a humanidade: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”.
A história de Maria de Nazaré revela que Deus quer a participação da humanidade para realizar seu plano de salvação. Por isso convida homens e mulheres atentos ao Reino de Deus e de coração disponível para o serviço aos irmãos. Cada um de nós, em Maria de Nazaré, também é convidado a percorrer os caminhos da felicidade e da realização plena. Já paramos para refletir que é através dos nossos gestos de amor, de partilha e de serviço que Deus se torna presente no mundo e o transforma?
Neste domingo que precede o Natal de Jesus, a história de Maria mostra como é possível fazer Jesus nascer no mundo: através de um “sim” incondicional a Deus. É preciso que, através dos nossos “sins” de cada instante, da nossa disponibilidade e entrega, Jesus possa vir ao mundo e oferecer a todos a salvação e a vida de Deus.
A alegria é dom que deve ser cuidado e, para que ela seja forte e constante, deve nascer do mais profundo de nós mesmos. Ela nos coloca em sintonia com Deus e com a humanidade, principalmente com quem sofre. A alegria de Maria é o prazer de uma mulher de fé que se alegra com Deus salvador, aquele que levanta os humilhados e dispersa os soberbos. Por isso, a verdadeira alegria brota no coração de quem acolheu Jesus e que deseja profundamente justiça, liberdade e fraternidade para todos. Só pode ser feliz quem se esforça em fazer o outro feliz.
Jesus é “a luz verdadeira, que, vindo ao mundo, a todos ilumina” (Jo, 1,9). Celebrar o Natal é buscar intensamente esta luz que vem do alto, vem de Deus: é o menino Jesus. Deus quer gerar uma nova vida em nós. Vamos acolher este convite com alegria e disposição. Neste Natal voltemos a Belém. Voltemos à simplicidade e pureza para adorar extasiados o menino-Deus.
Feliz Natal!
Dom João Carlos Seneme, css Bispo de Toledo |