“Maria descansa, José olha para ela; não sorri, seus olhos descem para o ventre de Maria e brilham. Os olhos de Maria também brilham. Eles brilham sempre. Antes não brilhavam, porque a vida não brilhava. Agora, quando ela pensa na vida, sente sempre aquela alegria tranquila e ao mesmo tempo excitante. Tranquila por que já sabe o que fazer, excitante, porque está ansiosa pelos acontecimentos. Começa a relembrar a causa da alegria.
O anjo trouxera uma mensagem: ‘Maria, tu vais dar à luz a um filho, o Filho de Deus. Ele vai ter o nome de Jesus e vai vir para salvar o mundo.’ Assim é que Maria guardara as palavras do anjo. Palavras simples, mas de tanto significado e alegria. Maria pensa no filho da sua prima Isabel, João. Também nascera no acampamento. O menino trouxera para todos uma alegria e disposição para o novo, o melhor.
Eles próprios irão seguir o caminho, viver a vida e conseguir a terra. Deus ajuda, mas a gente é que vive, luta e consegue a terra. Depois planta e colhe. A esperança é ter terra, então não haverá mais espaços a perder de vista sem produção, deixando tantos com fome. Estão lutando. Centenas de colonos, dos milhares de sem terra, chegaram naquela fazenda. Foi difícil armar as barracas e fincar pé. ‘Enquanto não tivermos outra, esta é a nossa terra.’ Foi e ainda é difícil. As esperanças vão diminuindo em muitos rostos, os olhos.
Maria adormece. É noite de Natal: tudo foi muito simples e lindo. Ali estava o menino, quietinho, numa caixa de papelão, enrolado num velho camisão. De todos os lugares da fazenda vinham colonos, crianças, homens e mulheres. Maria sabia que naquela criança todos podiam encontrar força para continuar. E nos olhos de cada pessoa, ela via um novo brilho de esperança.
* Filósofo e Teólogo – professor de filosofia, história e sociologia pardinhorama@gmail.com |