Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres está sendo pregado o evangelho. Mateus 11.5.
Quando tudo parece estar perdido, quando não há mais esperança, quando o mundo parece desabar por sobre as nossas cabeças, quando os gritos da fome, da miséria, do desemprego, dos sem-terra, sem-teto, sem-saúde, sem-escola, do salário mínimo, ecoam bem alto nos porões do Terceiro Mundo oprimido e explorado; surge ele, o Super-Roxo, defensor dos pobres e injustiçados, dos descalços e descamisados, dos sem-voz e sem-vez, prometendo lutar por uma vida mais digna e humana.
É assim que os meios de comunicação de massa e os enlatados, que nos bombardeiam diariamente, querem e procuram aliviar a dor daqueles que sofrem toda sorte de privações. São soluções mágicas, que nos são apresentadas, e que em vez de libertar, escravizam ainda mais os que nelas depositam sua confiança.
Estamos na época de Advento, e assim como João Batista e o povo da época esperavam por aquele que iria restabelecer a ordem e a justiça, assim também nós hoje o experimentamos. Em nosso tempo transparece o grito de João com a pergunta: “É o senhor mesmo?”. É você aquele que nós estávamos esperando? É você a cura de todos os males da nossa sociedade?
E Jesus, sem querer dar nenhum espetáculo de rede global, sem querer alienar as consciências, responde com os pequenos sinais que estão surgindo no meio do povo: “Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, e a Boa-Notícia do Evangelho é anunciada aos pobres” (v. 5).
A partir disso podemos nos perguntar: quais são os sinais concretos dentro da nossa realidade, dentro desse nosso mundo tão desesperançoso e que parece não ter mais saída? Ao que Jesus responde: “Felizes os que não duvidam … ” (v. 6). Felizes os que não duvidam, os que vêem, ouvem, andam na esperança, ressuscitam para a vida; felizes os que enxergam os pequenos sinais que nos são colocados pelos movimentos dos sem-terra, pela luta por vida mais digna e humana, pelas associações de bairros, pelos movimentos de mulheres, pela causa indígena, pelo engajamento por melhores salários, pelos que estão conscientes de sua responsabilidade social e acima de tudo estão comprometidos com o Evangelho libertador de Jesus Cristo. São pequenos sinais de um mundo melhor que tem esperança e que tem saída. É o grito, o clamor por mais justiça para todos os seres humanos. Resta para nós a pergunta: Que estou fazendo se sou cristão?
* José Pardinho Souza é filósofo e teólogo, professor de filosofia, história, sociologia e antropologia cultural. |