Este é um tempo muito festejado. Ano após ano, o Natal não deixa de pôr seus acentos. A gente o vê em toda parte. Comemora quem crê. E também festeja quem não crê.
E convém que assim seja. Afinal, Deus está Conosco, no Natal. A gente se alegra com esta maravilha que é nosso Deus. Não é mera ideia, nem é alguma ilusão, e muito menos um tipo de construção. Ele é presença entre nós.
Tudo isso é muito com reto, tem data e local, acontece em Belém, na manjedoura, em torno de um menino. Assim aparece a amizade de Deus por nós: concreta, palpável. Vale a pena comemorar tamanha amizade, tão maravilhoso achego de Deus em nossa vida. O que, aliás, vale para crentes e descrentes.
Mas, por falar em manjedoura, que estranho! Parece não caber no quadro, por isso os presépios tanto a enfeitam. Embelezam sua feiúra. Escondem seu mau cheiro. De todo jeito, foi na manjedoura que floriu a amizade de Deus. Estranho!
E Herodes não gostou, mandou procurar o menino. Pediu que fosse denunciado seu paradeiro. E para apanhá-lo, mandou logo matar duas mil crianças que corriam pelas ruas de Belém. Herodes, este chefe todo-poderoso, não se agradou dessa amizade de Deus.
É que Deus vem a nós de jeito estranho, inesperado. Faz-se rodear por gente que nem gente parece ser, por estes tipos que vivem junto às manjedouras e aos lixos do mundo. Começa por convidar pastores de ovelhas, gente difamada e malvista. Convoca doentes e doidos, felicita empobrecidos. E tudo fica às avessas.
Estava tudo tão claro e ordenado. Uns no poder e outros excluídos de tudo. Herodes lá no palácio e os demais cá na miséria. Todos já se haviam acostumado. Davam-no como aceito, normal, quase natural. E Deus põe tudo às avessas. Não vai ao palácio para nascer por lá. Vem pela manjedoura, rodeado de gente desfigurada, com cara e cheiro dos porões da humanidade. Que Natal estranho!
* José Pardinho Souza é filósofo e teólogo, professor de filosofia, história, sociologia e antropologia cultural. |