As lutas de Moisés da bíblia e de Zumbi dos Palmares
A história do Brasil registra a existência de grandes quilombos, símbolos da resistência negra contra a escravidão. O maior deles foi o de Palmares, que se estendeu por vasta região do Estado de Alagoas. Palmares durou 95 anos (1600 a 1695). Sua população era de aproximadamente 20 mil habitantes.
Seu mais conhecido líder, Zumbi, nasceu em 1655 em uma das aldeias do quilombo. Quando pequeno foi capturado por soldados do governo de Pernambuco e entregue a um padre. Estudou português e latim. Foi batizado pelo nome de Francisco e tomou-se coroinha. Em 1670 Zumbi fugiu da casa paroquial e se tornou um dos líderes do quilombo, em virtude de sua cultura, coragem, capacidade de organização e comando.
A história de Zumbi nos lembra muito a história de Moisés – líder do povo oprimido no Egito. Moisés nasceu de família humilde sendo criado na corte. Um dia rompeu com o palácio, identificando-se com seu povo, tornando-se um grande articulador da resistência frente ao Faraó.
Tanto Zumbi quanto Moisés não viram o desfecho do processo de libertação. Acontece que a Igreja oficial não apoiou a luta dos quilombos. A resistência negra teve como força importante a religiosidade africana, tachada até hoje de demoníaca.
Como entender essa contradição? Se os negros encontraram força libertadora em uma tradição religiosa, lutando pela vida, como condená-la? E os cristãos, herdeiros da mensagem libertadora, onde estavam? Exemplos concretos de libertação nem sempre contam com a presença de cristãos, o que representa um grande questionamento.
Para a luta do povo negro Zumbi é um exemplo de coragem e determinação na luta contra as desigualdades humanas.
A história nos leva a refletir sobre as lutas do povo e sua luz revela nossos preconceitos contra lutas do povo (negro) por justiça e liberdade. Busquemos dar continuidade às lutas dos mártires, identificando-nos e engajando-nos nos movimentos negros, índios, mulheres, crianças para enfrentar a realidade do mito da democracia racial no Brasil.
TRÁFICO – Os negros eram tratados como animais. Durante o dia trabalhavam nos engenhos e nas lavouras e parte da noite, nas senzalas. Os negros foram escravizados porque davam lucro também para os países que os comercializavam.
Muita gente enriqueceu vendendo negros. Até a Igreja lucrou com isto, embora os documentos papais da época só permitissem a comercialização de negros que já eram escravos na África.
CASTIGO – Os negros não vieram ao Brasil por livre e espontânea vontade. Não vieram à procura de riqueza. Viviam muito bem nas suas terras na África. Foram arrancados de suas terras separados de suas famílias, de suas culturas e de suas religiões. Foram trazidos e jogados em terras estranhas aqui no Brasil. Isto, para o negro, significou deixar de ser gente para ser animal, força bruta de trabalho manobrada pelos senhores de engenho.
SENZALA – Mesmo com a destruição de Palmares e com a morte de Zumbi, os negros continuavam a fugir do castigo e do tronco a que eram submetidos na senzala e a se agrupar nas florestas, lutando pela sobrevivência e pela liberdade.
Na sociedade, ainda hoje, existe discriminação nas escolas, no trabalho. Há, por exemplo, quem pense que, num país como o Brasil, o racismo só existe por causa de má fé de algumas pessoas mal intencionadas. Mudar a cabeça dessas pessoas seria, pois, suficiente para acabar com a discriminação. Na realidade, é muito mais do que isto; ele é um vírus que já contaminou toda a sociedade, desde as pessoas até a estrutura.
Movimento de Consciência Negra
Objetivos: Lutar pela identidade do negro e resgatar a cultura da história,do verdadeiro valor dos antepassados.
Hoje, nós negros, em geral de todo o Brasil, temos um grito de luta pela liberdade deste povo tão sofrido que são os negros.
* José Pardinho Souza é filósofo e teólogo, professor de filosofia, história, sociologia e antropologia cultural. |