Domingo, 7 Julho, 2024
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É possível a gratidão conviver com a ingratidão?

A gratidão é  um dos mais belos sentimentos. Em contraste, a ingratidão é una das experiências mais tristes.

O fundamento da gratidão é a idéia de que, quando fazemos um favor a alguém, esse alguém passa a ter uma dívida conosco. Não tem muita lógica tal raciocínio, porque frequentemente aquele que faz o favor usufrui muito mais prazer, ao fazer o favor, que aquele que recebe o favor. Nesses casos, quem faz o favor é que deveria  ficar grato, e não o contrário. Só há uma maneira de jamais ser vítima de ingratidão: nunca esperar pela gratidão.

Mesmo assim, a desilusão causada por uma ingratidão é muito atroz. No entanto, só ocorre se a pessoa que fez um favor esperava algo em retorno. Não é um sentimento elevado esperar retorno, pois então o favor se transforma em comércio. Perde todo o valor. Quando isso ocorre, um ato de bondade, de solidariedade, até mesmo um ato de heroísmo rebaixam-se ao nível inferior de um mero negócio.

Um ato altruísta, para ser realmente uma ação louvável, deve ser feita sem o menor compromisso de retorno. “Que sua mão direita não saiba o que a esquerda está fazendo”, como disse Cristo.

Uma pessoa de sentimentos elevados, ou seja, que não recalca os instintos sociais, não só é capaz de distribuir favores desinteressadamente como é capaz de extrair desse procedi­mento a maior soma de prazer genético possível.

Eis a recomendação de Jesus registrado no Evangelho de Mateus 6.1-4:” Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus. Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita;  Para que a tua esmola seja dada em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, ele mesmo te recompensará publicamente”.

            Essa é a mensagem dentre outros, de Buda, Confúcio e Cristo. É a voz dos gens, que ultrapassa os limites estreitos do ego.

Existe uma frase que foi atribuída a Sócrates que diz: “Se o desonesto soubesse a vantagem de ser honesto, ele seria honesto ao menos por desonestidade”. Parodiando, podemos dizer que a pessoa egoísta, se fosse esperta, seria altruísta. Seria incom­paravelmente mais feliz.

* Filósofo e Teólogo – professor de filosofia, antropologia, história e sociologia.
pardinhorama@gmail.com
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