A celebração eucarística da Solenidade de Todos os Santos se abre com a exortação “Alegrai-vos todos no Senhor”. A liturgia nos convida a partilhar a alegria celeste dos Santos e a saborear a sua alegria. Os Santos não são uma pequena casta de eleitos, mas uma multidão inumerável. Para eles a liturgia deste domingo, (5) nos exorta a elevar o olhar. Nesta multidão não estão apenas santos oficialmente reconhecidos, mas batizados de todas as épocas e nações, que procuraram cumprir a vontade divina com amor e fidelidade.
A Solenidade de Todos os Santos é a nossa festa: não porque somos bons, mas porque a santidade de Deus tocou a nossa vida. Os santos não são figuras perfeitas, são pessoas atravessadas por Deus. A festa dos santos é a festa do nosso destino, a festa a qual somos todos convidados e vocacionados.
É uma festa em que celebramos a fidelidade de Deus em relação à humanidade, e da humanidade em relação a Deus. Deste encontro feliz nasce e transcende a santidade. Festejar Todos os Santos significa fixar os olhos naqueles que já possuem a herança da glória de Deus. Os santos contemplam o rosto de Deus e se alegram plenamente com esta visão.
“A assembleia dos santos glorifica eternamente” o Senhor (cf. Prefácio da Solenidade). Toda a história da Igreja está marcada por estes homens e mulheres que com a sua fé e caridade são faróis para nós hoje.
Os Santos manifestam de diferentes maneiras a presença poderosa e transformadora do Ressuscitado; deixaram Cristo dominar tão plenamente a sua vida que puderam afirmar com São Paulo: “Já não sou eu quem vive, é Cristo vive em mim” (Gl 2,20).
Os santos são homens e mulheres que procuraram e amaram intensamente Deus; pessoas, das quais, talvez, nada sabemos, mas que ao longo dos séculos acolheram a palavra de Cristo que disse: “Dei-vos o exemplo, para que também vós façais como eu fiz” (Jo 13,15). E fizeram disso o seu programa de vida, com uma existência profundamente enraizada n’Ele, o Filho de Deus, o Redentor, a quem amaram com todas as suas forças, tornando-o presente no meio da humanidade.
No Evangelho, Jesus se dirige ao seu povo, a todos nós, nos chamando de “bem-aventurados” (Mt 5,3). É a palavra com a qual Ele inicia o seu ministério, que é o “Evangelho”, Boa Nova para o caminho da felicidade. Quem está com Jesus é abençoado, é feliz. A felicidade não está em ter algo ou em se tornar alguém importante, não, a verdadeira felicidade é estar com o Senhor e viver por amor. Os ingredientes para uma vida feliz estão presentes nas bem-aventuranças: bem-aventurados os simples, os humildes que dão lugar a Deus, que sabem chorar pelos outros e pelos próprios erros, permanecem mansos, lutam pela justiça, são misericordiosos com todos, guardam a pureza do coração, trabalham sempre pela paz e permanecem na alegria, não odeiam e, mesmo quando sofrem, respondem ao mal com o bem. Estas são as bem-aventuranças.
Hoje veneramos esta inumerável comunidade de Todos os Santos que, através dos seus diversos percursos de vida, nos mostram diferentes caminhos de santidade, unidos por um único denominador: seguir Cristo e nos conformar a Ele, meta última da nossa história humana. De fato, todos os estados de vida podem se tornar, com a ação da graça e com o empenho e a perseverança de cada um, caminhos de santificação.
Dom João Carlos Seneme, css Bispo de Toledo |