“Pois, qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir?” (Lucas 14.28 – Leia também Lucas 12.16-21).
Nesta semana estava refletindo sobre a história do Brasil e suas fases. Constatei que recentemente celebramos os 523 anos do descobrimento do Brasil e 201 anos, ou seja em 1822, Dom Pedro de Alcântara de Bragança – à época príncipe regente do Brasil – proferiu o célebre grito “Independência ou morte!”, às margens do Rio Ipiranga.
E há exatos 133 anos que aconteceu a Proclamação da República do Brasil, ato que resultou na derrubada da Monarquia e na instauração da República no Brasil. Durante todo este período o Brasil já teve 36 pessoas que estiveram à frente da presidência ao longo de mais de 100 anos de república, alguns deles em mais de um momento, totalizando assim 39 presidências até o ano de 2023.
Considerando que “O Brasil é uma república presidencialista desde 1889” todos os que ocuparam este cargo apresentaram projetos que prometiam transformar o Brasil num verdadeiro paraíso. Podemos citar, por exemplo, dois deles: O governo do período de 1990 até 1995 apresentou como lema BRASIL: UM PROJETO DE RECONSTRUÇÃO NACIONAL. Sem combinar o Presidente eleito para o período de 2023 à 2026 adotou o lema: PLANO DE RECONSTRUÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DO BRASIL OUTRO MUNDO É PRECISO OUTRO BRASIL É NECESSÁRIO.
Constato que, quando alguém fala em reconstrução está apontando para a existência de algo mal projetado, mal construído, avariado ou em ruínas. Imperiosa torna-se, então, uma parada. Precisa-se rever o plano ou a planta inicial. Avaliar onde começou o desvio. Diagnosticar a causa do insucesso e determinar até onde o existente estava certo, até onde deve ser desmanchado para que não se corra o risco de reconstruir sobre base frágil ou debilitada, reincidindo assim no erro. Neste procedimento é imprescindível que se tenha claramente definida a obra ou o produto final desejado.
Então, mesmo que eu quisesse acreditar nas intenções dos governantes, defrontar-me-ia com a seguinte verdade: O povo é a viga mestra e o pilar central de qualquer nação, mas o povo é, por princípio, também massa disforme que se transforma e se molda conforme a inspiração e a vontade daquele que segura o cinzel – o instrumento usado para esculpir.
Fico triste e indignado quando, até com frequência, ouço dizer que “o povo não presta.” O povo será sempre imagem daquilo que é investido nele. Nunca, em quase 201 anos de “independência”, foi investido tão pouco no povo, em sua saúde, sua infância, sua velhice, sua instrução, sua cultura, sua sobrevivência como neste fatídico ano de 2023 em que estou a juntar essas amargas reflexões, na condição de um veterano professor de história.
Contemplando a pretenciosa chamada de um plano de reconstrução da nação brasileira, antevejo não só a vontade de descarregar a responsabilidade no atual quadro de descalabro nos governos anteriores, evidentemente também culpados, como o colossal narcisismo de se arvorarem por antecipação em Salvadores da Pátria.
É muita pretensão, mas quem sabe? Felizmente, a semente da esperança será a última a morrer! A minha impressão ao meditar sobre a “Reconstrução” parece que os organizadores tomaram o seguinte: “Nós somos uma nova geração que veio depois do desastre. Não queremos remoer a polarização e vamos olhar para frente”. Entendo a escolha dos organizadores. Vamos juntar os cacos do que sobrou de país e tentar reconstruir, da melhor forma possível.
* Filósofo e Teólogo – professor de filosofia, antropologia, história e sociologia. pardinhorama@gmail.com |