São 85 anos de idade. Desses, 60 anos só de Assis Chateaubriand, cidade que escolheu para viver, construir a família e fazer história. Nascido no interior de São Paulo, Ferdinando Ferneda Neto chegou em terras chateaubriandense antes mesmo de se tornar município, em 1963.
Após seis décadas de grande e importante contribuição à comunidade no âmbito político, agrícola, esportivo, religioso, sindical, educacional, cooperativista e da comunicação, na noite de quarta-feira (25), em sessão solene na Câmara Municipal de Vereadores, o pioneiro Ferdinando Ferneda recebeu o imponente título de Cidadão Honorário de Assis Chateaubriand, a mais alta honraria concedida a um cidadão de seu município. A iniciativa é da vereadora Franciane Soni Martins Micheletto, presidente do Legislativo, com aprovação de todos os pares da casa.
Na plateia, familiares e amigos que acompanharam a trajetória de Ferdinando Ferneda. O homenageado se emocionou com todas as mensagens de carinho e de reconhecimento, sendo na tribuna ou por meio de vídeo no telão. Em cada discurso, um pouco da história de Ferdinando e sua importância para o município e à família. Uma verdadeira viagem ao tempo, quando a bravura e vontade do pioneiro fez a comunidade local vencer grandes desafios e se tornar cada vez mais forte.
A história de amor por Assis começou na agricultura, no Ramal Jaci. Ferdinando participou ativamente em várias frentes no município, com trabalho social, de fé e na política, sendo o vereador eleito com a segunda melhor votação em 1978. “A gente trabalha para a sociedade sem interesse algum em receber homenagem. Fazemos porque as coisas precisam ser feitas. Fiquei muito grato e emocionado em ser lembrado ainda em vida; foi gratificante. Muito obrigado aos vereadores e à sociedade por me conceder esse título”, agradeceu o Ferdinando. Em breve, um livro com a autobiografia do pioneiro será lançado. A obra é escrita pela filha Sara Ferneda Messias e por outros dois colegas jornalistas.
Para a presidente da Câmara de Vereadores, Franciane Micheletto, a trajetória de Ferdinando no município deve sempre ser reconhecida e aplaudida. “Esse pioneiro honrou sua história e, hoje, homenageamos um legado vivo. Não poderíamos deixar de reconhecer toda essa construção. Muito me chama a atenção pode ser um homem de família, honrado e sempre perseverante na fé. Ferdinando sempre se colocou à disposição do nosso município. Por isso, essa homenagem a ele. É um orgulho para mim”, ressaltou Franciane.
Representando o Governo Municipal, esteve presente na solenidade, o vice-prefeito licenciado e superintendente de Administração e Finanças, Cloves Angeleli. “A Câmara Municipal de Assis está tendo um gesto muito bonito de reconhecer em vida algumas pessoas pelo trabalho realizado no nosso município. Hoje não foi diferente. Foi muito bom ouvir a história desse agricultor que fez nome no campo, na área da comunicação, na área social, na política e na igreja. É um título que aplaudimos e ficamos felizes em participar dessa justa homenagem”, enfatizou Angeleli.
Amigo de longa data de Ferdinando, o deputado estadual Marcel Micheletto fez questão de prestigiar a solenidade. Emocionado, o parlamentar lembrou de histórias entre o pioneiro e seu saudoso pai, Moacir Micheletto. “Ferdinando faz parte da minha vida. Ele me conhece desde quando eu nasci. São 44 anos de convivência. Ferdinando tem uma história belíssima com os meus pais, sendo padrinho de casamento deles. Esse homem é sério, descente e de muita fé. É empreendedor e empresário de sucesso, principalmente com as rádios onde foi sócio, dando sua contribuição. Foi um pequeno agricultor que conseguiu formar todos os seus filhos por meio da luta e perseverança, superando todos os obstáculos. Eu sigo esse exemplo. Fico feliz em fazer parte desse dia”, conclui Micheletto.
Ao falar em nomes dos familiares, a filha caçula, a jornalista Sara Ferneda Messias, disse que o coração de seu pai, bate mais forte e acelerado por duas coisas: a família e o município de Assis Chateaubriand. Ela resumiu o sentimento da honraria e o legado de seu Ferdinando, dizendo que “o que fazemos por nós mesmos vai morrer conosco. Mas o que fazemos pelos outros e pelo mundo permanece imortal”. Sara comparou também, o pai, a uma árvore frondosa que vem testemunhando a vida de muitas gerações. “Entendo que as árvores são as sentinelas da eternidade. E meu pai ousou plantar a sua árvore, cuja imortalidade está na renovação constante de suas folhas e frutos. É assim que enxergamos ele, um legado vivo que permanecerá enraizado em nossas vidas e histórias”.
História de vida
Ferdinando Ferneda Netto é o quinto filho de Luiz Ferneda e Lúcia Pessotto. Nasceu em 13 de setembro de 1938, em Água do Matão, interior de Ribeirão dos Pintos, que foi emancipado como Ribeirão do Sul, no estado de São Paulo.
No Dia de Santo Antônio, 13 de junho de 1959, Ferdinando e Maria José se casaram. Dessa união nasceram 6 filhos: Edmeia, Sandra, Herênia Marcos, Sidnei e Sara.
Em 17 setembro de 1963, com a esposa Maria e as primeiras três filhas, mudou-se para Assis Chateaubriand. Firmou residência no Ramal Jaci. Nessa época Assis ainda era distrito de Toledo. Ferdinando brinca que não era uma propriedade cinco estrelas, mas se olhasse para o céu, poderia ver dezenas delas pelos buracos no telhado. Mas ali estava sendo edificado seu lar, sua moradia, seu legado.
A convivência com a natureza, mata fechada e os bichos selvagens, como onças e cobras faziam parte do cotidiano no início de suas vidas. A diversificação para alimentação com criação de galinhas, porcos, gado de leite, pesca, café, mandioca também fazia parte do cotidiano da família.
Ferdinando sempre foi um homem de fé e, a convite do padre Ângelo, passou a fazer parte da evangelização. Atuava como catequista e o casal era integrante do Movimento Familiar Cristão, inclusive foi padrinho de ordenação do Padre José Carlos. O casal também fez parte por muitos anos do Cursilho,
Testemunhou geadas devastadoras, como supersafras. Testemunhou também ações de grileiros e jagunços. Vivenciou na década de 1960, a explosão do cultivo da hortelã. Nessa época Assis Chateaubriand se transformou em uma espécie de Eldorado, com mais 113 mil pessoas vivendo no município.
Seu primeiro veículo foi uma charrete conduzido por uma mula. Andou também por muito tempo de bicicleta, até comprar a tão sonhado carro, uma camionete Aero Willys.
Mesmo tendo cursado apenas até a 4ª série do Ensino Fundamental, logo que a labuta da vida o levou ao trabalho quando ainda meninote, quis dar, em vida, aos filhos e a esposa, uma herança intransferível: que é o saber.
A esposa Maria é formada em História, a filha Edmeia formou-se em Letras, Sandra e Sidnei em agronomia, Herênia formou-se em Direito, Sara é jornalista e o filho Marcos é empresário no ramo agropecuário.
Ferdinando também foi um dos coordenadores do Mobral em Assis Chateaubriand. É dele a frase: “Fazenda divide-se, o saber jamais”.
Em 1967, junto com outras lideranças fundaram o Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Em 1970 o Sindicato iniciou a construção do Hospital Oswaldo Cruz, hoje Fundação Beneficente Moacir Micheletto.
Com a chegada da Emater (na época Acarpa), em 1974, o Sindicato e a Emater passaram a trabalhar juntos. Aqui entra em cena o saudoso Moacir Micheletto, que vai seguir carreira política, como deputado federal por seis mandatos e terá proximidade com Ferdinando até a morte do deputado, em 2012.
Ferdinando e Micheletto foram amigos, parceiros políticos, desbravadores, mas acima de tudo, dois idealistas que sempre lutaram para o bem e a prosperidade do município.
No cooperativismo Ferdinando contribuiu decisivamente para a integração dos produtores à Coopervale, hoje C.Vale, que instalou o primeiro entreposto em Assis Chateaubriand. Foi membro dos conselhos fiscal e administrativo da cooperativa por dois mandatos.
Com o trabalho social, através das atividades na igreja e no sindicato, percebeu que precisava participar também da política partidária porque, afinal, tudo passa pela política e só assim poderia buscar conquistas maiores para a comunidade.
Junto com outros parceiros fundou o partido Arena em Assis Chateaubriand. Durante a ditadura militar (1964-1985) só existiam dois partidos, a Arena (Aliança Renovadora Nacional), base da sustentação militar, e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), que fazia oposição tolerável ao regime. Até 1979 todos os demais partidos foram proibidos de atuar no Brasil.
Em 1978 Ferdinando Ferneda Netto foi eleito vereador com a segunda melhor votação para um mandato de seis anos.
Após o fim do mandato, ainda foi coordenador das campanhas de Moacir Micheletto, Luis Amaral e Vitor Pestana à prefeito. Foi parceiro político de Micheletto nas disputas para deputado federal.
Se para ser um bom líder é preciso ser bom em comunicação, faltava um canal de comunicação. Como vereador pleiteou uma emissora de rádio para o município. No dia 30 de setembro de 1978 entrou no ar a primeira emissora de Assis Chateaubriand, a Rádio Jornal AM, da qual Ferdinando foi sócio e diretor por 12 anos.
Em 20 de agosto de 1987 entrou no ar a Rádio Pitiguara FM – nome indígena que quer dizer “Senhor do Vale”. Outra iniciativa de Ferdinando e outros três sócios.
Ferdinando foi diretor de rádio durante os 25 anos e, também, fez parte da diretoria da AERP (Associação de Rádio e Televisão do Paraná).
Na década de 1980, em que Assis Chateaubriand começou a disputar o campeonato paranaense da segunda divisão, Ferdinando foi convidado a comandar a gestão do Assis Chateaubriand Futebol Clube.
No futebol, uma paixão desde menino, as alegrias vieram com a criação do Que-Se-Dane Futebol Clube, composto por um grupo de amigos e sem os compromissos do futebol profissional. Ferdinando jogou futebol até os 65 anos de idade. Ele é corintiano.
Desbravador nato, certa vez, resolveu que queria conhecer como viviam os indígenas do Brasil. Rodou mais de 2.700 quilômetros até Redenção, no Pará. Lá fez contato com o índio Toklan Kayapó, que trabalhava na Funai. Caçaram e pescaram na região do rio Araguaia.
Testemunhou esse universo e teve também, a oportunidade, de viajar e, conhecer outros mundos e culturas.
Das paixões que ainda nutre estão a pescaria, o circo, teatro, a música, futebol e os livros.
Há dois anos edificou nas proximidades do Rio Piquiri, o Rancho Ferneda. Cada filho tem um aposento. No dia da inauguração, em dezembro de 2021, com fala emocionada disse que esse seria o território neutro para que os filhos, genros, noras, netos, bisnetos e os tataranetos pudessem continuar se reunindo depois da partida dele e de dona Maria. Nessa ocasião fez apenas uma exigência: mesmo se um filho estiver em dificuldade, o outro irmão não poderá comprar a sua parte. Todos devem ter parte igualitária e que o Rancho Ferneda não saia da família por três gerações. Isso é sabedoria.
Ferdinando Ferneda Netto conta com mais de 42 descendentes, entre filhos, genros, noras, netos e bisnetos.
Ele tem orgulho de seu passado e da história. Começou como boia-fria, foi farmacêutico, colono de café, produtor rural e empresário das comunicações.
Para ele não existe limites para sonhar, mas é o tamanho deles que te define. Segundo Ferdinando, ele se tornou o homem mais rico do mundo. Aqui ele não está falando em patrimônio financeiro. Está falando de princípios, valores, fé e sobretudo, família. Esse é o seu principal legado.
Quero encerrar esse currículo vivo e inspirador, com o um pensamento do nosso homenageado, que diz o seguinte:
“O legado que se constrói enquanto habitamos este planeta tem muita coisa que depende da nossa ação individual. Acredito que a forma mais bonita de olharmos para a vida é vivermos como se fosse um livro que nós estamos escrevendo, e quando chegarmos ao fim da vida, vamos querer ler esse livro. Se pensarmos assim, vamos todos querer ter histórias bonitas das quais nos orgulhamos. Não é o dinheiro gasto em coisas supérfluas que inflam nossa vaidade, que torna a nossa história mais bonita. Agora, aquele dia em que ajudamos alguém, que contribuímos com nossa comunidade, vai nos aquecer o coração para sempre”.